O adoecimento severo de entes queridos é uma questão difícil de ser encarada. Às vezes, somos pegos de surpresa e temos que lidar com esse cenário inesperadamente. No caso de alguém com uma doença terminal, tudo pode ficar ainda mais doloroso.
Evitamos até mesmo pensar nesses assuntos, como se fosse possível afastá-los de nosso entorno. Saiba que existem maneiras diferentes de encarar a questão. Apesar da complexidade, é possível sim refletir a respeito e se preparar melhor para conviver com um amigo ou familiar com doença terminal.
Para além disso, é importante que você consiga dar conforto de maneira adequada para aquele que está sofrendo e, também, cuidar de si mesmo nesse processo. Vamos aproveitar este espaço para falar um pouco sobre esses pontos importantes que envolvem o convívio com pacientes terminais.
Esperamos que, com este texto, você fique mais preparado para conviver com alguém querido nesse estado, de modo que também possa auxiliar caso conheça alguém em uma situação similar. Vamos lá?
Entenda que a vida da pessoa não encerra com o diagnóstico
O diagnóstico terminal não é sinônimo de morte imediata, de que a vida da pessoa que você ama se encerra naquele instante. Uma forma de respeitá-la, inclusive, é possibilitar que ela viva com dignidade os momentos — que podem ser dias, meses ou até mesmo décadas — que lhe restam.
Ainda que não seja possível curar a doença em questão, tente propiciar ao indivíduo autonomia para viver esses momentos da forma como prefere. Cássia Orsolin Comin, graduada em Enfermagem e mestre no tema do Envelhecimento Humano, esclarece:
“O cuidado deve ser centrado em manter a autonomia do paciente para execução das atividades de vida diária e laborativas, respeitando as condições clínicas e psíquicas individuais.”
Por entender que o enfermo está em um lugar de fragilidade, é comum que a família prefira cercá-lo de limitações — ainda que bem-intencionadas — por todos os lados, em vez de pensar também na independência e no desejo daquele que realmente importa.
Muitas vezes, a pessoa em terminalidade pode ficar em casa, pois dispensa determinados cuidados médicos. Isso significa que é possível até mesmo restaurar alguns hábitos do cotidiano daquele sujeito, levando-lhe dignidade e humanidade. Sobre isso, Cássia indica que deve-se “manter um ambiente agradável, mas também sincero sobre a realidade da doença física”.
Respeite o processo do seu amigo ou familiar
O paciente em estado terminal pode passar por esse processo de diversas formas diferentes. É provável também que, ao longo desse tempo, ele vivencie diferentes estados de modo oscilante, com tendências contraditórias e incompreensíveis para você. Em questão de poucos instantes, a mesma pessoa que estava tranquila se transforma em pura lamúria e tristeza.
De qualquer forma, procure não impedir que a pessoa elabore a morte da forma que lhe for mais relevante. Por mais desagradáveis que sejam os pensamentos trazidos pelo ente querido, devemos também acolhê-los minimamente e entender que isso faz parte desse processo. É importante dar espaço para aquele que sofre falar, até mesmo para que exista uma testemunha de tais elaborações.
Cada pessoa tem sua própria maneira de encarar o sentido da vida e da morte. Procure não impor seu ponto de vista sobre o outro, mesmo que tenha a melhor das intenções. Mais do que nunca, a vontade e os desejos da pessoa devem ser respeitados.
Procure não iludir a si mesmo e ao outro
Às vezes, temos o impulso de dizer inverdades apenas para estancar o sofrimento alheio — ou será que é para calar algo com o qual nós mesmos não conseguimos lidar? Criar ilusões acerca de curas milagrosas pode ser ainda mais danoso, tanto para você quanto para o outro.
Mesmo que não queira, vale a pena conhecer com atenção aquilo que diz respeito ao caso clínico, pois ter mais informações ajuda você a entender a situação e seus desdobramentos. Existem até situações onde o paciente consegue aceitar o que está ocorrendo melhor do que nós mesmos. Nesse caso, você é quem pode estar precisando de um cuidado psíquico maior.
Com isso, não estamos querendo dizer que você deve perder completamente a fé e a esperança de que as coisas possam melhorar. De fato, tudo é possível e há casos surpreendentes na ciência. A questão, aqui, é não se apegar cegamente a uma certeza de cura quando tudo indica o contrário.
Mantenha certos cuidados com o enfermo
Quando uma doença não responde mais ao processo curativo, compreende-se que o paciente entrou em fase terminal e dá-se início aos cuidados paliativos. Mais do que procedimentos médicos, é necessário que essa pessoa tenha assistência também do ponto de vista social e psíquico.
Ainda segundo Cássia, deve-se dar cuidados ao enfermo “fomentando a comunicação empática e compassiva como suporte, sustentada pela sinceridade quanto às condições clínicas”. Ela também ressalta que “o ambiente deve ser otimista, valorizando os aspectos positivos da condição a fim de propiciar uma atmosfera mais leve e agradável”.
Lembre-se de cuidar de si mesmo e dos outros amigos e familiares
Não é só o paciente com doença terminal que merece atenção. Aqueles que estão ao seu entorno costumam também adoecer de certa forma e, por isso, também precisam de atenção. Lembre-se de que até para conseguir cuidar do outro precisamos estar bem, tanto do ponto de vista físico quanto psíquico.
Portanto, não hesite em buscar um profissional da saúde para uma consulta ou até mesmo para iniciar um processo terapêutico. Além do convívio em si com um paciente com doença terminal, o processo do luto também pode ser muito desgastante, de modo que ter um olhar qualificado para acompanhar você pode ajudar muito nesses processos.
Além disso, existem cuidados básicos de saúde e do descanso do corpo que não podem ser atropelados pela função de cuidador. Portanto, certifique-se de que isso não seja um fardo carregado apenas por um indivíduo.
Divida as responsabilidades do cuidado
Na maior parte dos casos, o ente querido em estado terminal tem pelo menos algumas pessoas de referência para auxiliarem como cuidadores. Ainda assim, é muito comum que a responsabilidade dos cuidados diretos fique inteiramente sobre os ombros de uma única ou duas pessoas.
Cuidar de uma pessoa com doença terminal é um trabalho exaustivo para o corpo e para a mente. Sendo assim, é saudável estabelecer minimamente uma alternância entre os responsáveis pelos cuidados ao longo da semana, sejam eles em casa ou no hospital.
O tempo de todos aqui é finito. Compreender a transitoriedade das coisas é uma forma de apaziguar a dor que cerca esses assuntos. Lembre-se de que os pontos mais importantes são o cuidado com aquele que tem uma doença terminal e o cuidado consigo mesmo, que convive com essa pessoa e que, depois, ainda terá de elaborar o luto pela perda do ente ou amigo querido.
Esperamos com sinceridade que discutir esse tema ajude você a lidar com essas questões tão delicadas. Agora, aproveite para ler também nosso artigo sobre como uma terapia pode ajudar a processar a perda.